Uma síntese da evolução histórica do pensamento Político

Os Impactos na Sociedade atual

Bruno Amaro
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A Filosofia, a Ciência Política e o Pensamento Político representam vertentes distintas na trajetória da política contemporânea. Para compreender sua evolução, é imperativo mergulhar na origem dessa consciência e identificar os pioneiros desse pensamento. Filósofos notáveis, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Maquiavel e outros estudiosos, destacaram-se ao perceber que uma civilização só se transforma em sociedade por meio da criação e aplicação de normas. Assim, ao compreender que o ser humano é sociável, entendemos que ele precisa de direcionamento para evoluir como cidadão, contribuindo tanto intelectualmente quanto economicamente para o ambiente em que está inserido.

Introdução

A compreensão da evolução do pensamento político, hoje consolidada como Política ou Ciência Política, é essencial para decifrar as bases sobre as quais dizem respeito à nossa sociedade contemporânea. Para tal, é imperativo analisar a origem desta disciplina e os motivos que instigaram os filósofos e estudiosos de eras passadas a se dedicarem de forma tão específica aos comportamentos de civilizações distintas.

Desde a Grécia antiga entre os séculos XIV a IX A.C os grandes filósofos da época como Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros, estudavam formas de melhorar a convivência dos seres humanos e se tornar uma sociedade, procuravam entender seus costumes e comportamentos para criar e aplicar regras na melhoria desta convivência.

Com isso, começamos a entender que era necessário criar essas regras para que hoje vivêssemos em sociedade de forma a respeitar nossos direitos e deveres. No entanto, o marco histórico se deu através do pensamento do filosofo Nicolau Maquiavel que em seu livro “o Príncipe” de 1513, uma obra focada em liderança política, ele descreve o Estado e o Governo como realmente são, inspirando assim vários Chefes de Estados nos dias atuais.

A Origem da Humanidade

A origem da humanidade e/ou seres humanos é um tema que desperta muito interesse acadêmico da ciência e religião e gera inúmeras vertentes, pois são muitas as origens apontadas, mas atualmente a hipótese mais aceita pela comunidade cientifica e historiadores é de que a espécie humana (Homo sapiens) surgiu há cerca de 200 mil anos e que são provenientes da África segundo (HUMAN ORIGINS, 2022) ainda segundo human origins, de lá se dispersou em muitas ondas migratórias para várias partes do mundo, Ásia, Europa, América, sendo estes ambientes com características bem distintas entre si, o que provavelmente corroborou para o surgimento de novas espécies.

Muitas transformações aconteceram com o passar dos tempos até o surgimento das primeiras civilizações, que ocorreram nos últimos 12.000 anos sendo as civilizações orientais: egípcias, mesopotâmicas, hebreus, fenícios e persas por volta de 7.000 a.C. e a civilização ocidental grega e romana por volta de 4.000 a.C.
Os povos da mesopotâmia considerada pelos historiadores como uma das civilizações mais antigas, são responsáveis pelo desenvolvimento do código de Hamurabi, um conjunto de leis para controlar e organizar a sociedade, sendo este código a mais antigo de que se tem conhecimento. “ (PRAVALER, 2020) ”

O código foi criado pelo rei da Babilônia Hamurabi aproximadamente em 1700 a.C, com o objetivo de estabelecer direito e deveres aos cidadãos da babilônia e mesmo possuindo em suas leis, vários aspectos de proteção ao cidadão como falso testemunho, roubo e receptação, estupro, o mesmo foi criado com o intuito de facilitar seu reinado dos conflitos que existia entre a população. Não havia filósofos, pensadores e muito menos a consciência de um pensamento político, não existia o conceito de estudo do comportamento humano e nem a necessidade de transformar as cidades, em uma sociedade política.

Por volta de 600 a.C a Grécia antiga, apresentava um crescimento populacional e também vários conflitos territoriais se tornando necessário instituir legisladores para criar um conjunto de leis e regras para essa civilização. Drácon e Sólon que eram políticos foram escolhidos para esta tarefa.

Drácon, foi um legislador ateniense. Ficou famoso por ter estabelecido um conjunto de leis escritas, conhecido como “leis draconianas”. Essas leis eram conhecidas pela sua severidade, sendo aplicadas de forma rigorosa, especialmente em casos de crimes graves. Drácon buscava trazer ordem e justiça à sociedade ateniense, mas suas leis eram tão rígidas que o termo “draconiano” passou a ser usado para descrever qualquer legislação severa.

Sólon, por sua vez, foi um estadista, poeta e legislador ateniense, é lembrado principalmente por suas reformas políticas e econômicas. Sólon contribuiu significativas nas mudanças do sistema legal e nas instituições de Atenas. Suas reformas incluíram a abolição da escravidão por dívida, a reorganização das classes sociais e a criação de um novo código legal mais equitativo. Além disso, Sólon instituiu medidas para promover uma participação política mais ampla na cidade.

Ambos Drácon e Sólon desempenharam papéis cruciais na evolução do sistema jurídico e político em Atenas, deixando um legado duradouro que influenciou o desenvolvimento da democracia na Grécia Antiga.

Ainda no século VI a.C surge Clístenes, membro da aristocracia ateniense que começou a implantar várias reformas políticas em Atenas na Grécia consolidando a democracia criada criada por Dracon e Sólon. Ainda sim essa democracia era restrita a apenas 10% da população ateniense. Somente em 427a.C começou- se a ter a consciência filosófica política através de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Os precursores do Pensamento Politico

Quando estudamos sobre pensamento político e como se inicia, logo temos a figura de Platão e Aristóteles como precursores desse pensamento, pois tinham o intuito de estudar o ser humano, como ser sociável. Quando Aristóteles começa a estudar o comportamento humano e suas características sociais, logo se verifica a necessidade de transformar as cidades existentes, em uma sociedade política, com regras, leis e determinações de um poder soberano.

Aristóteles evidencia em seus estudos que é essencial em qualquer sociedade, organização, que se tenha estabelecido regras determinando de forma clara seus limites, pois o homem é um ser sociável, mutável e adaptável. Isso fica claro, quando em uma de suas frases :

Quem vive só, bastando-se a si mesmo, ou é Deus ou Fera”

(A Política/AristótelesIvan Lins, Nelson Silveira Chaves, 2011, na tradução de padre Antônio Vieira).


Após um aprofundamento e extensos estudos, Aristóteles percebe que um governo não deve apenas importar leis ou buscar uma forma ideal de governar. É crucial adaptar-se aos costumes e às expectativas do povo, de modo que a política e a administração governamental sejam viáveis ​​e aplicáveis.

Inspirados por Aristóteles, figuras significativas como Santo Alberto Magno e Santo Tomás de Aquino difundiram por toda a Europa as suas ideias, ultrapassando os limites da Grécia Antiga e de Roma. Isso resultou em benefícios concretos para o pensamento político e na implementação de uma nova estruturação da sociedade.


O Início do Pensamento Politico

Apesar de Platão e Aristóteles terem dado início as pesquisas do comportamento social do ser humano e começar a desenhar um pensamento político, era apenas uma forma de estruturar a sociedade, ainda não era um modo de governo. Isso só passou a ser desenhado e desenvolvido de forma mais clara no período do Renascimento, através das ideias e estudos do filósofo Nicolau Maquiavel, onde ele procurava descobrir formas e quais deveria ser as atitudes de um bom governante, pois já estava sendo descrita as regras e leis que regia a sociedade, mas não como deveria ser um bom governo.

No século XVI e XVII o jurista teórico francês Jean Bodin defende mecanismos absolutistas e Thomas Holbers, que defende uma estrutura de política absolutista, assim como o inglês Jonh Locke que defende o liberalismo político, onde se verifica a necessidade de permitir que a economia da sociedade evoluísse, porem isso, gerava confronto com a política absolutista defendida por seus colegas estudiosos.

Nesse impasse, no século XVIII, com a era do iluminismo, os filósofos Montesquieu e Voltaire, através de seus vários estudos, renovaram as teorias políticas, que se tornaria nos dias atuais a nossa democracia. Montesquieu defendia a democracia, pois para ele, as liberdades individuais se faziam necessária para que se desenhasse uma sociedade e governo mais justo, onde o homem passaria a exercer a cidadania, surgindo assim o cidadão; Porém o entendimento de política e suas características só aconteceu, após o século XIX, com o filosofo Auguste Comte que identificou a necessidade de se estudar a política dentro do âmbito da antropologia, com uma nova visão, não mais como sociologia, assim logo surgiu a ciência política.

Para que essa ciência fosse aprimorada, os filósofos Karl Mark e Èmile Durkein, se dedicou a estudos políticos e suas concepções, se tornando teorias especificas e documentada por Edward Burnet Tylor e Hebert Spencer que passaram a difundir e estudar a antropologia e junto a eles o historiador Hebert Baxter cria o termo Ciência Política.

A ciência política passou a ser difundida em seus primeiros estudos documentados no Estados Unidos e logo passou a ser divulgado também na França e Alemanha, porém só passou a ser conhecido, estudado e divulgado e também praticado no Brasil na metade do século XIX.

Filosofia Política e Pensamento Político

Com o estudo dos vários filósofos, no decorrer da história se desenvolveu a filosofia política, que nada mais é do que descrever a política no âmbito filosófico, porém a ciência politica, já estuda e desenvolve o pensamento político, que por sua vez descreve como devem ser as atitudes tomadas por um governo e quais suas obrigações com os cidadãos enquanto Estado. Quando se desenvolve um pensamento político, o cidadão passa ainteragir com o governo, tendo conhecimento das regras, leis que lhe foram impostas e assim, Montesquieu expõe sua ideia de governança no livro o espirito das leis, V,14

“Para formar um governo moderado, há de combinar as potências, regulá-las, temperá-las, fazê-las agir…; é uma obra-prima de legislação, que o acaso raramente faz e que raramente deixam a prudência fazer”

A Filosofia Política, Anne Baudart, 1997, p.36

O Pensamento Político em Evolução

O pensamento político passou a ser desenvolvido de forma mais clara na era Moderna por volta de 1588, com Thomas Hobbes que acreditava que só um poder absoluto poderia garantir mais segurança ao governo, porém dentro desse pensamento político moderno, se destaca John Locke que defendia um estado democrático, com o cidadão participante de decisões desse governo, podendo expor seus pensamentos de forma simples.

“Para formar um governo moderado, há de combinar as potências, regulá-las, temperá-las, fazê-las agir…; é uma obra-prima de legislação, que o acaso raramente faz e que raramente deixam a prudência fazer”

Montesquieu, O Espirito das Leis, V, 14. (A Filosofia Política, Anne Baudart, 1997, p.36)


Já para o Jean Jacques Rosseuau um importante filósofo, teórico político e escritor, defendia um ser humano bondoso e sem corrupções e com isso uma política mais maleável. Porém, é Nicolau Maquiavel que inaugura o pensamento político moderno, dando ênfase a noção de virtude de um bom governante, para que assim pudesse governar bem e ter existo em suas ações e decisões. Mas é só após as revoluções Industrial e Francesa, que se desperta a noção da sociedade para a democracia e os direitos que com ela foi criado e são as consequências dessas guerras é que desperta no cidadão um pensamento político voltado aos seus direitos e deveres.

Democracia e o Pensamento Político Contemporâneo

Nos tempos da Grécia antiga a democracia era difundida, de forma bem especifica onde apenas poucas pessoas participavam do conjunto de decisões de como governar a sociedade, mas para Aristóteles, já era uma forma de democracia, pois as pessoas tinham opiniões a ser discutidas.
Com o passar dos anos, foi crescendo esse tipo de governo, pois a população começou a evoluir seu pensamento político, onde buscavam conhecer e participar das decisões do Estado.

Com o crescimento das sociedades participativas, começou a tornar difícil a organização apenas pelo próprio povo, tornando-se necessário uma figura de governo, além de um conjunto de pessoas que através da escolha direta, através de votos da população, passaram a exercer o direito de representar as ideias de todas as pessoas da sociedade, chegando a democracia e pensamento político contemporâneo, onde o Estado se divide em poder legislativo, executivo e judiciário, cabendo a cada um deles, manter a ordem e fazer com que se cumpra os direitos e deveres da sociedade de forma geral, evitando abusos de poder e situações que causem desordem dentro do estado nacional.

Muitos países adotaram essas medidas de governo para que assim tornasse a comunicação e organização da sociedade em si, mais justa e menos desigual, o que muitas vezes, não acontece dentro de um pais, pois infelizmente nem todos que são escolhidos para representar o povo, leva essa incumbência com a seriedade que o cargo exige, fazendo que muitas vezes, a sociedade sofra as consequências de uma má administração desse governo.

Para Bentham e James Mill, segundo (Francisco C. Weffort, Os Clássicos da Política, volume 2, Ed. 2006, P.197), O homem é um maximizador do prazer e um minimizador do sofrimento. A sociedade é o agregado de consciências autocentradas e independente, cada qual buscando seus desejos e impulsos. O bem-estar pode ser calculado para qualquer homem subtraindo-se o montante de seu sofrimento do valor bruto de seu prazer.

Deve-se ter o cuidado dentro da democracia para não ter a desigualdade também não deve ter a igualdade extrema, pois ambos, em excesso trará grandes prejuízos a sociedade, mesmo que em alguns casos, não se possa perceber o quanto essa situação interfere no cotidiano da população.

Considerações

Ao analisarmos os fatos apresentados, compreendemos que o pensamento político mantém sua essência, que consiste na organização de uma sociedade e no progresso desta civilização. Com o conhecimento adquirido através dos estudiosos, delineou-se um direcionamento para o que deveria ser uma sociedade justa e pacífica. Contudo, a busca incessante do homem pelo poder e o controle dessa essência se desvirtua ao longo do tempo.

O Ser humano, apesar de ser sociável, é competitivo e vive em busca de glorias e poder e com isso, os menos favorecidos, tornan-se objetos de manipulação desses poderosos, tornando uma sociedade desigual, onde poucos tem muito e muitos têm pouco e a cada dia, apesar dos cidadãos conhecer seus direitos e deveres, torna-se cada dia mais difícil usufrui de seus direitos, mas necessita ser cumpridor dos seus deveres.

Entendemos que enquanto os cidadãos não se colocar como peça chave, fundamental para o desenrolar da história do Estado maior, o mundo será sempre comandado por quem pode mais, aquele que tem mais conhecimento consegue muitas das vezes manipular os que não possuem um pensamento político desarraigado de fundamentos de barganha.

Bibliografia

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https://www.infoescola.com/politica/democracia/. (s.d.). Acesso em 28 de fevereiro de 2022,
disponível em infoescola.

Lins, I. (2021). A Politica / Aristoteles (Especial ed.). (N. S. Chaves, Trad.) Rio de Janeiro, Brasil: Nova
Fronteira. Fonte: https://www.google.com.br/books/edition/A_Pol%C3%ADtica/37GuDwAAQBAJ?hl=ptBR&gbpv=1&kptab=editions

Oliveira, M. (s.d.). Mundo Educação. Acesso em 23 de Fevereiro de 22, disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/filosofia-politica.htm

ORIGINS, H. (03 de Fevereiro de 2022). HUMAN ORIGINS. Acesso em 23 de Fevereiro de 2022,
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PRAVALER. (22 de Setembro de 2020). PRAVALER. Acesso em 23 de Fevereiro de 2022, disponível
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Weffort, F. C. (2006). Os Clássicos da Politica- edição 11.ª (Vol. 2). (C. S. Rosa, Ed.) Sao Paulo, SP,
Brasil: Ática.

Weffort, F. C. (2006). Os clássicos da Politica – edicao 14.ª (Vol. 1). (C. S. Rosa, Ed.) São Paulo, SP,
Brasil: Atica.

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É o responsável pela administração do Direito Com Amor. Além das funções administrativas e comerciais, também atua no conselho editorial e na edição e produção de conteúdo. Atualmente Acadêmico em Direito, mas tem sua formação inicial em Administração de Empresas, Agrimensura além de especializações no setor tributário.
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