Faculdade de Direito x Saúde Mental: Como superar a Pressão

Equilíbrio Essencial

Charlene AmaroBruno Amaro
11 Minutos de leitura

A

Vida é feita de ciclos, cada um tem o seu proposito e sua importância na vida de cada um, quando chega o tempo de ir para a faculdade, aparece a indecisão, o que fazer, como fazer e onde fazer, busca-se informações, locais e muitas vezes até indicações, quando se decide por um curso, logo se imagina na profissão e com toda a alegria se inicia o curso. Logo vem os primeiros desafios, a adaptação da nova rotina de estudos, abrir mão de alguns finais de semana, algumas noites mal dormidas, e assim vai se adaptando, mas a incessante cobrança por prazos, as entregas de trabalhos, as provas, e o querer dar conta de tudo, se torna exaustivo. Os semestres vão se passando e a vida continua nessa verdadeira dança das cadeiras, uns com mais animo, outros com menos, uns enfrentando desafios internos, outros externos, alguns poucos que se tornaram amigos nesses dias acabam por abandonar a faculdade pelos mais variados motivos, outros por não se encaixar nessa rotina e a vida continua.

Os dias passam e a cada semestre, o pensamento é que tudo vai valer a pena, é saber que as dificuldades serão superadas, mas em algum momento, nosso corpo começa a dar sinais que algo não está legal, começa a mostrar que é preciso dar pausas, é preciso cuidar da saúde mental, é preciso ir com mais calma, colocar os pês no chão e saber que está tudo bem não tirar a melhor nota na prova, está tudo bem ter uma chamada de atenção de um professor, está tudo bem alguns amigos não concordarem com nossas ideias e opiniões, é compreensível se sentir sobrecarregado e incapaz de dar conta de tudo. É normal ter momentos de culpa por deixar o filho em casa, não ter tempo para o parceiro (a) ou amigos, ou não conseguir falar com a família com a frequência que gostaria e muitas vezes pensar em desistir, está tudo bem questionar suas escolhas. Isso faz parte do processo.

A vida universitária é um processo desafiador que exige adaptações. O importante é lembrar de cuidar de si mesmo: praticar atividades que promovam seu bem-estar e buscar ajuda profissional quando necessário. Você não está sozinho e não precisa enfrentar isso sozinho.

Pausar, respirar, se alimentar melhor e dormir bem são passos essenciais. Essas práticas costumam renovam as forças e a vontade de vencer. Aos poucos, a força para continuar volta, e o desejo de chegar à tão sonhada formatura se fortalece.

Tudo na vida é um processo que inclui começo, meio e fim. A certeza de que as coisas vão se ajeitar torna tudo mais fácil e faz cada esforço valer a pena.”

Um artigo científico sobre a saúde mental dos estudantes universitários publicado na Revista da Avaliação da Educação Superior de Campinas, identificou que começou a surgir a preocupação sobre esse tema ainda em 1910 nos EUA , e a Universidade de Princeton, montou o primeiro serviço de saúde voltado ao campo Discente, e em 1936  cerca de 40% das universidades americanas já estavam com esse serviço ativo em apoio aos estudantes.

No Brasil teve início em 1957 na universidade de Pernambuco e era voltado principalmente aos estudantes de Medicina.  Com o intuito de entender melhor a saúde mental dos discentes. O Prof. Galdino Loreto, responsável pelo serviço de atendimento na universidade, elaborou um relatório, sendo este o primeiro estudo brasileiro sobre saúde mental dos estudantes de medicina e as principais queixas dos atendidos era conciliar a vida pessoal e familiar, pois isso interferia diretamente no desempenho acadêmico.

Em 1976 outro estudo publicado por Joel Sales Giglio, realizado com estudantes da Unicamp como Tese de Doutorado em Psicologia Médica e Psiquiátrica. Da Universidade Estadual de Campinas, registrou que os fatores que mais interferia no desempenho acadêmico era as preocupações com o futuro profissional, a falta de tempo para conciliar estudo com trabalho e a correspondência do curso com as expectativas desejadas.

Esses levantamentos continuam, mesmo que de maneira menos rotineira, mas os aspectos da saúde e adoecimento mental entre estudantes universitários, tem sido preocupante, fatores como ansiedade, depressão, tem sido os assuntos mais relevantes levados aos consultórios de psicologia e psiquiatria, as frustrações e as pressões do dia a dia tem elevado a utilização dos serviços de saúde nessas áreas.

O interesse sobre o tema da saúde mental universitária tornou-se tão relevante que a Rede Novo Tempo de Comunicação, conhecida por abordar temas sobre fé, ciência e cultura, publicou em sua 1ª edição/2020 um estudo encomendado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (ANDIFES). O estudo constatou que aproximadamente 15% dos universitários passam por períodos de depressão em algum ponto do curso, enquanto a média para jovens de até 25 anos fora da universidade fica em torno de 4%. Ou seja, jovens universitários têm de 3 a 4 vezes mais chances de se suicidarem do que jovens fora da faculdade, e esse número pode ser ainda maior entre alunos das áreas relacionadas com a saúde.

Isso não se trata de demonizar a universidade ou tirar seu mérito na progressão do espírito humano. Já dizia o grande educador Anísio Teixeira:

São as universidades que fazem hoje, com efeito, a vida marchar. Nada as substitui.

Anísio. Notas para a história da educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.37, n.85, jan./mar. 1962. 

No entanto, a busca por atingir os objetivos profissionais, a constante cobrança por melhores condições de salários e alcançar novos níveis na carreira profissional tem levado muitas pessoas a buscar novos conhecimentos e aprimorar cada dia mais o currículo. Porém, a falta de tempo e a ânsia de conquistar as coisas em tempo recorde tem elevado o grau de ansiedade a níveis ainda incompreendidos pela psicologia moderna.

A preocupação que nos motiva a escrever este artigo é: como nós, estudantes e profissionais da área do direito, estamos lidando com nossa saúde mental? As constantes cobranças pelos prazos, a busca contínua por conhecimento, a necessidade de estar atento às diversas alterações na lei, às várias emendas constitucionais, às leis complementares, às mudanças no código civil e outras modificações legais tendem a gerar ansiedade preocupações. Será que estamos preparados? Assim como preparamos o intelecto, também precisamos preparar o corpo para absorver essas informações, respeitar limites, trabalhar com pausas e entender que tudo tem seu tempo para acontecer. A absorção de conhecimento é diferente para cada pessoa.

O que a universidade não nos ensina é que não precisamos dar conta de tudo. Podemos respirar, pausar e nos organizar.

Nesse sentido o Conselho Federal da OAB, em 2018 lançou a Cartilha da Saúde Mental da Advocacia, com objetivo de conscientizar a categoria sobre os riscos à saúde mental inerentes à profissão, como ansiedade, burnout, pânico e depressão. Fatores como alta carga de trabalho, pressão por resultados, insegurança profissional e exposição a situações traumáticas contribuem para esses problemas. A Cartilha descreve sinais e sintomas, além de apresentar dicas de prevenção e opções de tratamento e os direitos dos advogados em relação à saúde mental. Recursos adicionais como sites, aplicativos e telefones de apoio também são oferecidos.

Com a revolução digital em curso no direito, impulsionada por tecnologias como Inteligência Artificial (IA), Blockchain, Contratos Inteligentes, Direito Digital e Cibersegurança e tantas outras, o mundo jurídico está sendo remodelado em um ritmo acelerado. Diante dessa transformação, talvez seja hora de transcendermos o direito como o conhecemos hoje. Não se trata apenas de implementar novas tecnologias, mas de adotar uma abordagem mais profunda que abarque as angústias humanas e ofereça um olhar holístico sobre as dimensões humanas, sociais e éticas da prática jurídica.

Precisamos de um direito que, ao mesmo tempo em que se beneficia dos avanços tecnológicos, esteja ancorado em valores humanísticos e centrado no bem-estar do ser humano. Um sistema jurídico que reconheça a importância das relações humanas e sociais, e que considere os impactos éticos das decisões jurídicas. Somente assim poderemos garantir que a inovação tecnológica contribua para uma prática jurídica mais justa, equilibrada e humanizada.

Tudo deve ser equilibrado, afinal, a balança que simboliza o direito não só representa o princípio fundamental da igualdade perante a lei e o objetivo de garantir um julgamento justo e equilibrado para nossos clientes, mas também reflete a importância de mantermos um equilíbrio em nossas próprias vidas. Assim como buscamos equidade e imparcialidade no exercício da profissão jurídica, também devemos cuidar de nosso bem-estar físico e emocional, encontrando um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal. Afinal, somente quando estamos equilibrados podemos verdadeiramente servir à justiça de forma eficaz e sustentável.

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É a responsável pelo Podcast aqui do portal Direito Com Amor! Também atua no conselho editorial e na edição e produção de conteúdo. Atualmente Acadêmica em Direito, mas tem sua formação inicial em Administração de Empresas.
É o responsável pela administração do Direito Com Amor. Além das funções administrativas e comerciais, também atua no conselho editorial e na edição e produção de conteúdo. Atualmente Acadêmico em Direito, mas tem sua formação inicial em Administração de Empresas, Agrimensura além de especializações no setor tributário.
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